Cococi
Para chegar lá, é preciso abrir e fechar sete porteiras. O chão é de cascalho, a estrada, cheia de curvas, parece que não levará a nenhum lugar. Então, meia hora depois de sair de Tauá, o carro chega a um descampado, aonde o vento empurra para cá e para lá ma chusma de papéis, sacos plásticos, chusma de papéis, sacos plásticos, restos de comida. Numa barraca provisória ainda armada, vê-se um grupo renitente, que quer espichar a festa e segura o sanfoneiro, cansado da noite de forró. Uma vez no ano Cococi, volta a se animar de gente, de música, de alegria. É na festa da padroeira. Nossa Senhora da Conceição. Apenas cinco ou seis famílias, descendentes dos Feitosa, tomam conta da cidade abandonada. No casario em ruínas ainda se pode ver a pintura mural do antigo hotel e os detalhes arquitetônicos, que demonstram zelo e beleza dos mestres de obra sertanejos. A capela, de paredes largar, feita de taipa e arcabouço de rija madeira de lei, ostenta um púlpito de singular beleza, com desenhos feitos por artífices indígenas, da escola dos jesuítas. O cineasta Petrus Cariry aproveitou a singular história da cidade para criar o curta Dos Restos e das Solidões, que já arrebatou mais de dez prêmios em festivais. Em novembro de 2006, o filme foi exibido no Independent New York Film Festival e nos festivais de Cuba e da Dinamarca. Cococi era distrito de Tauá, mas por ingerências políticas da família mais importante da região, os Feitosa, foi alcançado à categoria de município. Durou pouco mais de uma década, até ser extinto em 1968, quando a cidade começou a se esvaziar. Restaram as cumeeiras, estas portas e janelas abertas ao vento, ao sol e à saudade.